quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Salmos, 137


Às margens dos rios da Babilônia,
nós nos assentávamos e chorávamos,
lembrando-nos de Sião.
Nos salgueiros que lá havia,
pendurávamos as nossas harpas,
pois aqueles que nos levaram cativos nos pediam canções,
e os nossos opressores, que fôssemos alegres, dizendo:
Entoai-nos algum dos cânticos de Sião.

Como, porém, haveríamos de entoar o canto do Senhor
em terra estranha?
Se eu de ti me esquecer, ó Jerusalém,
que se resseque a minha mão direita.
Apegue-se-me a língua ao paladar,
se me não lembrar de ti,
se não preferir eu Jerusalém
à minha maior alegria.

Contra os filhos de Edom, lembra-te, Senhor,
do dia de Jerusalém,
pois diziam: Arrasai-a, arrasai-a,
até aos fundamentos.
Filha da Babilônia, que hás de ser destruída,
feliz aquele que te der o pago
do mal que nos fizeste.
Feliz aquele que pegar teus filhos
e esmagá-los contra a pedra.

[tradução de João Ferreira de Almeida, versão Revista e atualizada, SBB]

terça-feira, 29 de novembro de 2011

MAR PORTUGUEZ - de Fernando Pessoa


Ó mar salgado, quanto do teu sal 
São lágrimas de Portugal! 
Por te cruzarmos, quantas mães choraram, 
Quantos filhos em vão rezaram! 
Quantas noivas ficaram por casar 
Para que fosses nosso, ó mar! 

Valeu a pena? Tudo vale a pena  

se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador 
Tem que passar além da dor. 
Deus ao mar o perigo e o abismo deu, 
Mas nele é que espelhou o céu. 

Autor: Fernando Pessoa (livro Mensagem)

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

DE VULGARI ELOQUENTIA - de Paulo Henriques Britto


A realidade é coisa delicada,
de se pegar com as pontas dos dedos.

Um gesto mais brutal, e pronto: o nada.
A qualquer hora pode advir o fim.
O mais terrível de todos os medos.

Mas, felizmente, não é bem assim.
Há uma saída - falar, falar muito.
São as palavras que suportam o mundo,
não os ombros. Sem o "porque", o "sim",

todos os ombros afundam juntos.
Basta uma boca aberta (ou um rabisco
num papel) para salvar o universo.
Portanto, meus amigos, eu insisto:
falem sem parar. Mesmo sem assunto.

Autor: Paulo Henriques Britto (livro Macau)