segunda-feira, 13 de maio de 2013

POEMA DO MAIS TRISTE MAIO - de Manuel Bandeira

Meus amigos, meus inimigos
Saibam todos que o velho bardo
Está agora, entre mil perigos,
Comendo em vez de rosas, cardo.

Acabou-se a idade das rosas!
Das rosas, dos lírios, dos nardos
E outras especies olorosas:
É chegado o tempo dos cardos.

E passada a sazão das rosas,
Tudo é vil, tudo é sáfio, árduo.
Nas longas horas dolorosas
Pungem fundo as puas do cardo.

As saudades não me consolam.
Antes ferem-me como dardos.
As companhias me desolam
E os versos que me vêm, vem tardos.

Meus amigos, meus inimigos,
saibam todos que o velho bardo
Está agora, entre mil perigos,
Comendo em vez de rosas, cardo.


Livro: Bandeira de Bolso, editora L&PM, 2010